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Entrevista com a Prof. Alexandra Quitério da ESJA


Uma Entrevista Sincera - com a Prof. Alexandra Quitério


Um dos principais objetivos d'O Teu Jornal é mostrar conhecimento em diversas aprendizagens, e de certa forma, ajudar os leitores com os nossos artigos. Desta vez, foi-se decidido entrevistar um membro da nossa escola muito importante, que muitos devem conhecer e que acreditamos que faz a diferença enquanto pessoa e enquanto Professora.

Nesta entrevista, será a Prof. Alexandra Quitério que nos dará a sua experiência de vida pessoal e de carreira, em muitos temas que até hoje se mantêm, e alguns conselhos para os alunos.



Prof. Alexandra Quitério



Qual a sua formação e em que Faculdade estudou? Há quanto tempo?

Eu estudei Línguas e Literaturas Modernas, variantes de Inglês e Alemão na Universidade Nova de Lisboa e concluí a minha Licenciatura em 1986. Depois concorri para ser Professora no mês de outubro e fiquei colocada em Maceira-Liz, no concelho de Leiria.


Porque razão escolheu a carreira de Professora? Valeu a pena?

Escolhi a carreira de Professora no final do 10º ano; estava bastante indecisa entre seguir Direito ou vir para o mundo do ensino… Na altura também não havia muitas opções para as mulheres, de forma que como gostei tanto da língua alemã (que comecei a aprender no 10º ano), optei mesmo pela educação nessa altura. Foi por causa do alemão que tomei esta decisão.


Se não fosse Professora, que profissão escolheria?

Se eu não fosse professora, garantidamente teria optado por Direito e acho que poderia ter sido uma boa advogada, mas certamente enfrentaria muitos problemas, porque tenho algumas posições muito radicais e teria alguns problemas em gerir a defesa ou acusação de determinados casos. Seria uma profissão igualmente apaixonante. Sabes, no tempo em que concluí o ensino secundário não havia a diversidade de escolhas que há hoje. Se eu tivesse novamente 16 anos e estivesse em 2023, optaria definitivamente pela política.


Das experiências que presenciou na área da educação, qual delas considera mais significativa?

As experiências mais significativas que eu tive em termos pessoais e que me encheram completamente as medidas foram trabalhar num serviço do Ministério da Educação durante 4 anos.

Num primeiro ano, estive ligada à educação de adultos quando o ensino noturno foi generalizado por unidades capitalizáveis; mais tarde voltei à escola, sendo novamente convidada para durante 3 anos coordenar o ensino artístico especializado da música e da dança e as escolas com currículos estrangeiros em Portugal na área da grande Lisboa. Foram experiências absolutamente fantásticas porque não eram áreas minhas e adorei todo aquele trabalho.


Na sua experiência como Professora, já teve alguma oportunidade de participar na elaboração de algum projeto? Se sim, qual e como foi?

Sim! Participei na generalização do ensino secundário por unidades capitalizáveis, um projeto massivo a nível nacional em 1996, e depois na generalização da flexibilidade curricular que estamos a viver agora, com o Decreto-Lei 55.


De tudo o que leciona, qual o seu assunto favorito para ensinar aos alunos?

Eu não diria que tenho um assunto favorito, mas gosto imenso das Aprendizagens Essenciais do ensino secundário e, portanto, qualquer um dos temas me fascina.


O que pensa sobre correção e disciplina na sala de aula?

Eu não sei se os meus métodos são os mais indicados, mas só posso falar por mim. Para mim é fundamental a comunicação com os alunos, a partilha de informação e tentar responsabilizá-los, sem fazer queixas permanentes aos encarregados de educação; apelar sobretudo à relação de respeito e tolerância professor-aluno e alunos-alunos, dentro da escola. Eu penso que a tolerância de facto deve existir entre todos nós, nomeadamente também dos alunos para com os professores. Se formos todos transparentes e flexíveis, as coisas correm muito melhor.


Qual o aluno mais novo e o mais velho que já teve a oportunidade de ensinar? Como foi essa adaptação?

A adaptação foi sempre muito gira. O aluno mais velho que eu tive tinha 82 anos, era engenheiro aposentado e inscreveu-se na Escola Secundária Eça de Queirós, onde estive 12 anos, nas formações modulares e foi meu aluno de inglês e depois de alemão, e era uma pessoa absolutamente brilhante. Adorei ensiná-lo.

Por outro lado, estive na generalização do inglês no 1º ciclo com o British Council e os alunos mais novos que ensinei estavam no 3º ano de escolaridade; tinham 8 anos! A adaptação foi bastante mais difícil para com os alunos do 1º ciclo, acredita! Acho que os professores deste ciclo fazem um trabalho muitíssimo desgastante, muito criativo e lecionar aquele ciclo de ensino de facto puxou por mim. Não estava habituada a tanta espontaneidade, a tantos beijinhos, a tantos abraços, a tanto entusiasmo.… isso foi muito gratificante.


Qual a sua maior virtude/capacidade enquanto Professora?

Sinceramente, nunca pensei nisso. Sou entusiasta e alegre. Penso que no geral sou uma pessoa disponível para os alunos, tolerante e bem-disposta. Embora seja exigente, também me sei colocar no lugar dos outros e perceber as fragilidades ou potencialidades de cada um. Uma coisa é certa: quanto maior for a entrega dos alunos, maior é a minha entrega.


Pode compartilhar agora uma vulnerabilidade ou dificuldade sua enquanto Professora?

A minha maior vulnerabilidade é o facto de eu não ser uma pessoa extremamente sociável, nomeadamente com os adultos. Ou seja, a maior parte dos professores tem muitos professores como amigos, eu não. Já os tive sim, mas houve uma determinada altura em que enfrentei uma doença, que me fez distanciar um bocadinho do mundo da escola. Isso fez-me muito bem e distanciou-me um bocadinho da conversa sobre alunos, escola, aprendizagem, avaliações… e ao fim de 37 anos na Educação, penso que tenho o direito de fazer essa escolha.


Que estratégia utiliza para lidar com a pressão?

Eu lido muito bem com a pressão e funciono muito bem em trabalho sob pressão, já em aluna era assim. Tento sempre conseguir gerir o tempo, mesmo que seja curto, para fazer as coisas atempadamente. Não gosto que me imponham prazos, mas há prazos que são comuns a todos nós e quem embarca nesta profissão sabe que tem de cumpri-los e, portanto, é gerir isso o melhor possível sem entrar em parafuso. É tentar não perder o controlo, e mesmo trabalhando sob pressão, consegue fazer-se razoavelmente bem.


Em relação a esta escola, o que considera positivo? E negativo?

Ora bem, costumo dizer que vim para esta escola por escolha própria, embora obviamente houvesse um concurso nacional, mas tinha quase a certeza que conseguiria ficar aqui, porque já são muitos anos de serviço e se saísse alguém do quadro eu certamente entraria; rapidamente percebi, pela posição que tinha a nível nacional, que iria ficar de facto na minha primeira escolha (esta Escola) ou na segunda (que era a Escola Secundária de Camões).

A maior qualidade desta escola é o ambiente de trabalho, que é muito pacífico. O ambiente entre alunos também me parece muito saudável.

Os maiores problemas que a escola enfrenta são a falta de instalações para muitas atividades que outras escolas normalmente fazem e que aqui são impraticáveis. Há falta de espaços e, portanto, é tudo muito difícil de gerir. Embora toda a gente faça um grande esforço para que tudo corra bem, o que é certo é que esta escola já não corresponde aos parâmetros que os alunos precisam atualmente. O que nós temos para dar é o nosso trabalho e a escola vale por isso, pelo trabalho que faz com as poucas capacidades financeiras e logísticas que tem.


Acha que a Educação é a solução para o nosso mundo?

Sempre. Sem Educação não vamos a lado nenhum enquanto indivíduos ou enquanto país. Neste momento, encontra-se a ocorrer uma greve de professores e de pessoal não docente das escolas, e de facto, sem Educação, as pessoas pouca possibilidade têm de atingir o

conhecimento, porque não vão ter muitas mais oportunidades na vida para terem 18 anos, mesmo que só estudem até ao ensino secundário e que concluam o ensino secundário, dificilmente vão ter tanta disponibilidade de tempo para se entregarem ao conhecimento e à curiosidade, à entrega e aprendizagem. Se esse tempo da escolaridade obrigatória for bem aproveitado, eu acho que a pessoa tem meio caminho feito para que a vida lhe corra menos mal.

Claro que a educação não se cinge só á escola, mas também passa muito por ela, dado que as pessoas não têm tempo para muito mais, a disponibilidade das famílias também não é muita para dar atenção aos filhos.

A solução do mundo passa muito por isso. O que se passa agora no Afeganistão e no mundo árabe só nos tem dito uma coisa: a liberdade está em causa em muitos países e a liberdade e a independência que as mulheres conquistaram também está em causa em muitos países.

Eu espero que isto não se alastre e aí sim, demonstra-se que a Educação é a força de tudo isto, porque não querer que se atinga o conhecimento é gravíssimo.


Tem algum conselho para os alunos desta escola?

Aproveitem ao máximo aquilo que a escola vos pode oferecer, porque dificilmente vão voltar a ter este tempo para essa entrega. Aproveitem os tempos livres, os tempos de estudo, aproveitem para fazer voluntariado, para ler, para fazer tudo aquilo que um dia mais tarde não terão tanta oportunidade de fazer.


Obrigada!


Entrevista por Luana Vilas Boas, Turma 11º3I

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