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Verdadeiro ou Falso: São Vicente

Julgo que seja de conhecimento geral que praticamente todas as cidades/povoações têm um santo (ou santa) padroeiro. Mas é aqui que vos questiono: sabem quem é o padroeiro de Lisboa, a nossa capital?


Muitos responderão Santo António, celebrado durante as festas dos santos populares. Mas acontece que este santo (ele próprio alfacinha) não é o verdadeiro santo padroeiro! Mas, quem o será então? Será São Jorge, o santo que nomeia o alto castelo da cidade? Também não.


Na verdade, o santo padroeiro de Lisboa é bem menos conhecido. E imaginem que o coitado tem um mosteiro em seu nome numa área que, em tempos (particularmente, na época em que foi construído, no séc. XII) era já fora da cidade!


E é aqui que vos apresento São Vicente, o verdadeiro Padroeiro da Cidade de Lisboa (o Principal, oficialmente).



 

Também conhecido como são Vicente de Saragoça ou São Vicente Mártir, nasceu e viveu na atual Espanha, entre os séculos III e IV, ainda durante a ocupação romana na Península Ibérica. Começou a vida eclesiástica em Saragoça, junto do Bispo Valero, bispo que, mais tarde, vem a nomeá-lo diácono.


Durante esta época, estava no poder o imperador Diocleciano que ordenou “uma das mais cruéis perseguições contra os cristãos” (*). Muitos foram apanhados, em especial na Espanha. E são Vicente e o Bispo Valero não foram exceção. Foram transferidos para Valência, onde começaram os interrogatórios e a tortura. No entanto, não importando o quão grande fosse a tortura (e era muita a ponto de envolver unhas de metal) vicente manteve-se na fé e rejeitou renunciar à mesma. Após muito sofrimento, o diácono acabou por morrer a 22 de janeiro de 304. [N.a. - para os curiosos que querem saber o que aconteceu ao bispo, ele supostamente foi enviado para o exílio quando vicente foi enviado para a tortura.] Foi imediatamente martirizado.


Diz-se que o corpo foi atirado aos abutres, mas foi protegido por um corvo. Então, foi atirado ao mar, mas trazido de volta pela maré. É por aqui que se começa a falar de “milagre”.


Segundo a lenda:


A primeira parte da lenda é meio discutida. Uns defendem que foi um grupo de cristãos em Valência que trouxe o corpo do santo de barco para protegê-lo dos mouros, com a ideia de seguir para as Astúrias, no Norte da península (a única zona cristã); enquanto que outros dizem que o corpo foi simplesmente deixado à deriva num barco, mas facto é que foi parar, de uma forma ou de outra, à costa de Sagres, perto de onde é hoje o Cabo de São Vicente (nomeado em sua honra). Construiu-se, então uma igreja com o seu nome e protegeram-se as relíquias a todo o custo.


Anos mais tarde, el rei d. Afonso Henriques seguia a sua trajetória de reconquista pelo território, o que não tinha lá muita piada para os mouros. Como vingança contra o Rei cristão, os mouros destruíram a vila e a igreja e fizeram prisioneiros os cristãos. Sabendo de tal, D. Afonso foi em seu socorro. Então, o rei foi informado de que as relíquias do santo mártir permaneciam escondidas.


–“[…] salvámos o corpo de S. Vicente!” (**)


O rei, incrédulo por tal feito, foi convencido pelos aldeões a levar as relíquias para fora dali, visto que o Algarve era ainda território mouro. (ora aqui está mais um detalhe interessante: há muitos que dizem que o primeiro rei português fez a promessa de que levaria as relíquias para Lisboa caso esta fosse conquistada aos mouros, o que, como sabemos, ocorreu, em 1147).


Mas havia um problema: el rei desconhecia a localização do sepulcro e quem sabia já lá não estava para lhe contar. É então que, procurando perto do local, são avistados alguns corvos a voar em torno de um mesmo ponto. Lá foram investigar e, ali estava o sepulcro com as relíquias do santo espanhol! No entanto, não era ainda tempo para celebrações; era urgente tirá-las dali o mais rápido possível. E a via mais rápida e segura da época era a marítima. Assim sendo, subiram a bordo com o tesouro recém-encontrado e partiram viagem.


É a meio da viagem que alguém nota algo... invulgar...


– ”Há um par de corvos que nos acompanha, senhor!” (**)


Dois corvos acompanhavam a embarcação, e assim o fizeram até chegar a Lisboa. E mesmo aí, o rei via que as aves ainda os seguiam.


As relíquias chegaram à capital a 15 de setembro de 1173 e foram acolhidas na igreja de Santa Justa, na Baixa (uma daquelas igrejas que desapareceu com o tempo) e, no dia seguinte, foram transladadas para a Sé de Lisboa, onde estão até hoje. Este ano (2023) fazem precisamente 850 anos desde que as relíquias chegaram e descansam em Lisboa.


Aquando da transladação do corpo para a Sé, o par de corvos seguiu o mesmo e fez das torres da catedral o seu lar.


É possível ver mais sobre o santo, assim como os cofres-relicários com as relíquias no museu da Sé de Lisboa.


Simbologia:

A imagem de S. Vicente aparece, geralmente, com o manto de diácono; com a folha de palmeira, símbolo de mártir; e a barca com os dois corvos na mão. Ocasionalmente, é representado com um livro, provavelmente a Bíblia, pelo seu cargo eclesiástico; nessas situações, a embarcação com os corvos surge aos pés


O brasão...

A lenda tornou-se tão importante, que faz parte agora do símbolo da cidade. Se bem que a palavra “agora” não se adequa lá muito, visto que o selo surge pela primeira vez algures por 1190. Nessa época, apresentava apenas um corvo, sendo que mais tarde foi atualizada para ter o outro corvo e o corpo de S. Vicente dentro da embarcação. O selo como o conhecemos (apenas o barco com os dois corvos) surge em 1233 e permanece até hoje. É visível não só no brasão e na bandeira, como um pouco por toda a capital, pelo chão, pelos candeeiros... é só prestar atenção aos detalhes quando passarem pela nossa bela Lisboa :)


Sobre o Mosteiro...

Não faria muito sentido não referir brevemente o mosteiro em seu nome e sua honra.

Na verdade, a construção do Mosteiro de São Vicente de Fora vem de uma promessa feita pelo rei d. Afonso H. caso conseguisse salvar as relíquias, isso ou conquistar a cidade (talvez a mesma referida anteriormente), existem as duas versões. Para a sua localização existem, outra vez, duas versões: uma delas é que seja o local onde os soldados assentaram para o cerco da cidade em 1147, se bem que esta parece meio forçada, o que nos leva à segunda ideia, mais clara, mais provável e a que tem influência na toponímia (isto é, o nome) do mosteiro: o facto de que dentro da cidade, dentro das muralhas, já não havia mais espaço para tal construção. Relembrando que a cidade de Lisboa nem sempre foi a grande cidade que é hoje e que foi aumentando com o passar dos séculos, Lisboa não passava muito para lá das muralhas do Castelo, nas zonas da Mouraria e da Alfama (os primeiros grandes aumentos das muralhas a seguir à conquista deram-se com D. Dinis, que permanece um mistério até hoje, com a construção de uma muralha junto ao rio, e com D. Fernando, com a construção da muralha fernandina na área do Martim Moniz). O mosteiro foi construído e tornou-se num ponto de peregrinação importante. Aquando do reinado do rei D. Filipe I de Portugal, o mosteiro foi “reedificado” devido a algumas corrosões do tempo. No entanto, quiseram-se ocultar tais marcas, muito pela recusa da passagem dos reis espanhóis no trono português. É também aí que se encontra o panteão onde estão sepultados os reis da família de Bragança.

Hoje, o mosteiro está aberto ao público.


No dia 22 de janeiro, dia do santo (que este ano calha num domingo), há a anual celebração em honra de S. Vicente na Sé, onde as relíquias são expostas.



 










Mosteiro medieval (F.: www.mosteirodesaovicentedefora.com )












Pintura presente na Basílica dos Mártires, Baixa Chiado (F.: google)












(F.: autoria própria)












Imagem de S Vicente no miradouro de Santa Luzia com o mosteiro de fundo (F.: autoria própria)










Cofre-Relicário (F.: www.sedelisboa.pt )



 

Bibliografia/Webgrafia (consultados em janeiro/2023)


Bernardo, Inês; Lendas de Portugal – Lisboa e Vale do Tejo (2012); Didáctica Editora (**)

Sabe quem foi São Vicente? - Renascença (sapo.pt)

segunda-feira, 22 de janeiro (aleteia.org) (*)

São Vicente, o santo impopular | LOCAL LISBOA | PÚBLICO (publico.pt)

Afinal, quem é o padroeiro de Lisboa? - Lisboa Secreta

Origem e História do Mosteiro - Mosteiro de São Vicente de Fora (mosteirodesaovicentedefora.com)

Santos e Tradições – Sé de Lisboa (sedelisboa.pt)


Teresa Mª da Costa, 11º 3I

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