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Conto: Nem tudo o que é luz, é ouro

Mote para este artigo: All that glitters is not gold


Nem tudo o que é luz, é ouro


Tudo estava a brilhar. O salão parecia ser tirado de um conto de fadas, extravagante e mágico. Perto das paredes, podiam ser encontradas mesas longas com toalhas de mesa prateadas, e com imensa comida, de pequenas bolachas a frutos de mar. Um grande candelabro iluminava toda a sala, e através das janelas a beleza do jardim, cheio de flores e esculturas, podia ser apreciada. No entanto, o que atraía a atenção de todos eram as pessoas que estavam no centro do salão. Pessoas que ou estavam a falar, a rir, ou a dançar. Pessoas vestidas com fatos e vestidos compridos formavam o retrato perfeito do que parecia ser uma noite encantadora.


A jovem de 19 anos olhava atentamente para a foto que encontrou no google. Parecia que recentemente um evento de caridade tinha acontecido. As pessoas vestiram-se com as roupas mais caras que podiam ser encontradas e deram o seu melhor para mostrar a riqueza que tinham. Porque sinceramente, quem ia gastar tanto dinheiro senão para mostrar a sua superioridade? Até uma licitação aconteceu no evento e os preços subiram até 86.000.000 euros. Foi incrível.


A mulher não descolou os olhos da foto, a única luz no quarto, que parecia ser ter sido comida pela escuridão, era a do seu telemóvel.


“Não é justo” pensou ela. A mulher que se chamava Antónia respirou profundamente, e desligou o telefone. “Não é justo, não é justo…” continuou ela a pensar enquanto os seus olhos se encheram de lágrimas. E era injusto. Enquanto a jovem se perguntava todos os dias se iria poder pagar a renda do seu apartamento, as pessoas gastavam dinheiro sem pensar duas vezes nas consequências.


Porque não podia estar ela nas fotos? Porque deveria ser ela a pessoa do outro lado, que está a ver tudo, mas nunca participa e é desconhecida? Porque teve ela de nascer numa família pobre, e sofrer, enquanto os outros dançavam nos seus privilégios?


Ela odiava tudo. Odiava-se a si própria por não ser forte. Odiava o mundo em que nasceu. E principalmente, odiava o fato de que ela nunca seria como eles.


O mundo era tão injusto.


Na foto podiam ser encontradas 3 pessoas. Um jovem loiro que ria por causa de uma coisa que uma jovem de vestido azul lhe disse, e uma mulher com cabelo preto que tinha na mão um copo de champanhe.


Na parte esquerda do salão, perto das mesas, estava uma mulher a olhar pela janela.

Este era o único momento da noite onde a mulher podia ser encontrada sozinha. Durante todo o evento ela teve várias conversas marcantes com uma multidão de pessoas, que estavam sempre à sua volta.


Descrevê-la como linda podia ser considerado um eufemismo. A mulher era maravilhosa, a sua beleza cortava a respiração de homens e mulheres. Todos estavam encantados com ela, pelo seu cabelo preto como a noite estrelada e pelos olhos azuis como o céu de manhã.

Mas quem ia pensar que esta musa escondia tanto sofrimento atrás do seu sorriso?


Uma figura deambulava no corredor do hospital. Andava devagar e parecia ter medo do que podia encontrar atrás das portas. Afinal, o hospital pode ser considerado o lugar mais próximo do Paraíso.


Melinda respirou profundamente e bateu à porta. Nenhuma resposta. Entrou e olhou no quarto até os olhos depararem com a sua mãe que estava a dormir na cama. Sorriu e entrou em silêncio para não a acordar. Ela colocou as flores que tinha na mão (lírios - as preferidas da mãe dela) num vaso, e sentou-se na cadeira perto da cama.


Durante aquelas duas horas, enquanto a mãe dormia, ela não fez nada além de olhar para ela. A sua cara era muito mais pálida e ela parecia muito mais cansada do que na última visita. Provavelmente era por causa dos medicamentos que ela tinha de tomar. Melinda ficou triste pensando na dor que a sua mãe devia sentir, estando todo o dia ligada a máquinas e sempre a engolir medicamentos. Não podia acreditar que a mãe que estava sempre a rir e a correr, brincando com ela, agora nem se podia levantar da cama sem ajuda.

Uma lágrima caiu na sua bochecha. A realidade atingiu-a e percebeu que a sua mãe iria partir muito mais cedo para o céu do que devia. O pensamento da mãe dela parar de viver matava-a. Não se podia imaginar num mundo sem a sua querida mãe. Não ia poder sobreviver sozinha. Não era tão forte como isso. Iria ficar perdida no mundo para sempre.


Duas semanas depois, a mãe dela morreu. Morreu uma morte fácil, enquanto estava a dormir. Quando Melinda ouviu as notícias, caiu no desespero. Nunca tinha chorado tanto. Os próximos 6 meses passaram a correr, ela afogou-se em álcool e nunca ninguém a via fora de casa.


Um dia, ela teve um sonho. Um sonho onde a sua mãe estava no jardim da sua antiga casa, jovem e linda, e sorriu-lhe. Disse-lhe, enquanto estava a segurar as mãos da sua filha, que ela não tinha de destruir a sua vida. Deveria vivê-la. Deveria ser feliz e rir muito. Deveria sair da sua casa e interagir com os outros. Deveria seguir os seus sonhos e nunca desistir, porque a sua mamã iria sempre olhar do céu para ela. Embora não estivesse com ela fisicamente, ela ia estar sempre no seu coração.


Melinda acordou a chorar. E aquele foi o dia. O dia em que tudo mudou.


Assim, Melinda pôs a sua antiga vida para atrás e começou uma nova. Começou a fazer exercício físico, a ir a vários clubes e a participar em vários eventos de caridade, onde fazia doações de dinheiro para causas importantes. E podia ser encontrada a usar um vestido branco. Branco que é o contrário do preto, vida que é o contrário da morte. Ela nasceu de novo naquele momento.


Na outra ponta, um jovem loiro e de olhos azuis sorria gentilmente, com um daqueles sorrisos que poderia trespassar o coração de qualquer rapariga. Os seus cabelos loiros brilhavam como ouro em conjunto com as luzes da sala. Toda a sua figura parecia a de um príncipe de um conto de fadas. Talvez só a sua história não fosse, exatamente, um conto de fadas...


Apesar da sua aparência mágica e encantadora que passava a imagem de uma vida perfeita, os seus olhos transmitiam algo estranho... algo parecido a tristeza e solidão...


De facto, a vida deste “príncipe” tinha demasiada tristeza e solidão.


O nosso príncipe, que não deveria ter mais de 25 anos, nasceu no seio de uma família de negócios. Os seus pais, que casaram por contrato, passavam quase todo o tempo fora em viagens de negócios. Não quer isso dizer que eles não amavam o filho, até pelo contrário. Eles davam-lhe tudo o que ele precisava ou queria. Ou devemos antes dizer, quase tudo. O que eles não lhe davam era o que ele mais precisava: o amor de pais presentes. O pobre rapaz cresceu vendo os pais menos de 4 vezes por mês.


Aos 15 anos, o rapaz foi obrigado a estudar em casa devido às mudanças regulares de casa. Sem um lugar fixo para chamar de lar, sem possibilidade de ter amigos fixos (e verdadeiros) e sem ver os pais por muito tempo, como quereriam que ele não sentisse solidão?

Ao seu lado, uma jovem com um vestido azul, olhos escuros, cabelos ruivos brilhantes e um sorriso tímido. A expressão dela irradiava ao visualizador beleza e paz. Talvez o seu sorriso tímido fosse só a expressão desse seu traço psicológico... seria?


Vendo a história mais a fundo, aquele sorriso não demonstrava a sua personalidade, mas antes escondia a sua situação.


Aquela jovem, gentil e pacífica, sempre tivera uma saúde frágil. A menor mudança de temperatura e lá ia ela parar ao hospital. Grande parte da sua vida foi passada dentro de um quarto branco e frio, com máquinas e fios para prevenir que a sua situação não piorava. Ao longo do tempo, a sua esperança foi desaparecendo...


Não muito antes da data da fotografia, a nossa pobre jovem foi diagnosticada com cancro, como se a sua saúde já não fosse suficientemente má. Acontece que o seu cabelo ruivo era, na verdade, uma peruca, e era essa a razão de ser tão brilhante.

Com uma saúde frágil como o gelo, diagnosticada com uma doença (possivelmente) terminal e com uma baixa esperança, seria a vida desta jovem tão pacífica quanto ela fazia parecer?


Alguém quer continuar esta história? Enviem a continuação para: 11_3I_2223@esjaloures.org


Melisa Celac e Teresa Maria da Costa

Turma 11º 3I

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